ANO LITÚRGICO - Ritmos e Tempos

25/03/2015 13:46

O ANO LITÚRGICO - Ritmos e Tempos

ESPIRITUALIDADE

 

Refrão:           Desde a manhã, preparo uma oferenda

          E fico, Senhor, a espera de um sinal

          E fico, Senhor, a espera de um sinal.

 

Em pé

 

ENTRADA DO CÍRIO PASCAL

“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas”.

É por essa luz que estamos aqui reunidos.

 

Canto de acolhida do Círio Pascal           

- Ó Luz do Senhor, que vem sobre a terra/

- Clareia o universo, com seu esplendor.

 

Apresentação do Círio Pascal

- Eis a luz, eis a luz de Cristo, a luz de Cristo.

- Demos graças, demos graças, demos graças a Deus (bis)

 

ENTRONIZAÇÃO DA BÍBLIA SAGRADA

A Bíblia Sagrada é o livro da vida. Contém a história do povo de Israel – contém a nossa história. Contém o projeto de salvação para o povo escolhido – nela está a nossa Salvação.

O “Shemá Israel” é a confissão de fé por excelência do povo judeu.

Unindo a nossa voz à voz do povo da primeira aliança, vamos agora receber toda essa história da nossa salvação contida na Bíblia Sagrada, cantando:

 

Canto:

Shemá Israel, Adonai helo, enu. (bis)

Adonai eh! Ah!. (bis)

            Escuta Israel, o Senhor é o nosso Deus. (bis)

            Um é o Senhor. (bis)

 

PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

Mt 5, 13-16 (Sal da terra e luz do mundo)

 

Sentados

-          REFLEXÃO: Bíblia: Teologia – Liturgia

Silêncio

Em pé

Canto de AÇÃO DE GRAÇAS

Senhor, meu Deus, quando eu maravilhado,/ fico a pensar nas obras de tuas mãos:

O céu azul, de estrelas pontilhado,/ o teu poder, mostrando a criação.

 

Então minh’alma canta a ti, Senhor: Quão grande és tu! Quão grande és tu! (bis)

 

Quando a vagar por matas e florestas,/ a passarada ouço a cantar.

Olhando os montes, vales e campinas,/ em tudo vejo teu poder sem par.

 

Senhor, meu Deus, com toda humildade,/ proclamo agora meu intenso amor.

E eu confio em tua palavra,/ que viverei pra sempre sem temor.

 

PRECES DOS FIÉIS (espontâneas)

R – Ó Senhor, ó Senhor, neste dia / Escutai nossa prece!

Conclusão das Preces:

            Pai querido, nós vos apresentamos estes pedidos neste inicio do nosso encontro. Que eles sejam agradáveis ao vosso olhar e mereçam alcançar o que pedimos. Por Cristo, nosso Senhor.

 

Peçamos ao Senhor que abençoe este nosso encontro

 

HINO: Pág 453 ODC

- Venham ó nações, ao Senhor cantar (bis)

  Ao Deus do Universo, venham festejar. (bis)

 

- Seu amor por nós, firme para sempre. (bis)

  Sua fidelidade, dura eternamente. (bis)

 

- Para ti, Senhor, toda noite é dia, (bis)

  A escuridão mais densa logo se alumia. (bis)

 

- És a luz do mundo, és a luz da vida, (bis)

  Cristo Jesus resplende, és nossa alegria! (bis)

- Creio no Evangelho, venho aqui cantar. (bis)

  Ao Deus da minha vida, quero festejar. (bis)

 

- Nossas mãos orantes, para os céus subindo. (bis)

  Cheguem como oferenda, ao som deste hino. (bis)

 

- Aleluia irmãs, aleluia irmãos. (bis)

  Do povo missionário, a Deus louvação. (bis)

 

- Vem ó Santo Espírito, Vem iluminar. (bis)

  Este nosso Encontro, vem abençoar. (bis)

 

- Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito (bis)

  Glória à Trindade Santa, Glória ao Deus Bendito. (bis)

 

Pai nosso.../Abraço da paz

 

- Rito para apagar o Cirio.

 

O que vocês viram e como viram este momento de espiritualidade. Que sinais chamaram mais a atenção de vocês.

 

Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem.

 

Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Os ritos de passagem podem ter caráter religioso, por exemplo. Cada religião tem seus ritos, sendo parecidos com de outras religiões, ou não.

 

Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, portanto tanto o cunho individual quanto o coletivo.

Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome, previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez, de forma solene.

Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia.

Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se para o casamento. Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele fazia a caça e o abate do primeiro animal.

Ligadas, portanto, ao derramamento de sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade (pela procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã.

Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no reino dos mortos .

Todas essas cerimônias, no entanto, marcavam pontos de desprendimento. Velhas atitudes eram abandonadas e novas deviam ser aceitas. A convivência com algumas pessoas devia ser deixada para trás e novas pessoas passavam a constituir o grupo de relacionamento direto. Muitas vezes, a cada uma dessas cerimônias, a pessoa trocava de nome, representando que aquela identidade que assumira até então, não mais existia - ela era uma nova pessoa.

Nos tempos atuais e nas sociedades modernas, muitos desses ritos subsistiram embora muitos deles esvaziados do seu conteúdo simbólico. Batismo, para nós cristãos, marca o início de uma nova fase na vida do indivíduo.

No entanto, poderíamos perguntar: quantas pessoas que batizam os seus filhos são, realmente, cristãs. Quantas pretendem realmente cumprir a promessa solene, feita em frente ao seu sacerdote, de manter a criança na  dos seus antepassados? Obviamente, nas sociedades primitivas, tais promessas eram obrigações indiscutíveis e sagradas. Rompê-las era colocar em risco a própria sobrevivência da tribo como unidade coerente, o que não era, ao menos, cogitável.

(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)

 

O processo ritual e a dimensão sacramental estão intimamente relacionados. Quanto mais estivermos conscientes disso, tanto mais sentiremos a necessidade de acompanhar a reflexão teológica e pastoral sobre a ritualidade e a sacramentalidade inerentes à ação litúrgica.

Quanto mais levarmos a sério a ritualidade e a sacramentalidade, tanto mais a ação a litúrgica será, de fato, o lugar privilegiado onde se realiza o desígnio salvífico de Deus para toda a humanidade.

No rito, o mistério se faz presente como momento de graça para o povo santo de Deus, reunido em assembleia. (Do livro: O SEGREDO DO RITO, de Ione Buyst - apresentação de D. Joviano de Lima Junior)

 

INTRODUÇÃO

É preciso recuperar o rito enquanto “urgia”, isto é, enquanto ação, trabalho, superando assim a rotineira “mesmice” e superficialidade de muitas celebrações realizadas mecanicamente. É preciso redescobrir a liturgia enquanto acontecimento e experiência, de encontro entre pessoas.

E preciso trabalhar a unidade perdida entre liturgia, fé, teologia e espiritualidade, ou entre ação ritual, seu sentido teológico, e a vida litúrgico-espiritual. E isto não apenas no âmbito teórico, mas, sobretudo, operacional, pedagógico, formativo: ajudar as pessoas, as comunidades, a celebrar bem, vivendo os ritos conscientemente, comunitariamente e com proveito espiritual.

Lamentamos a ausência de adolescentes e jovens nas celebrações após a crisma. Mas durante os anos em que foram obrigados a freqüentar nossas “aulas” celebramos com eles os fatos da vida relacionados ao mistério pascal? Explicamos a eles a diferença entre memorial e lembrança através de celebrações que marcassem aquele momento? Ou nos limitamos a dizer que lembrança é um fato do passado que permanece no passado e memorial é uma lembrança atualizada.

Ritos são tão necessários para o ser humano quanto comida e bebida.

Daí a necessidade de aprofundarmos a relação entre os elementos rituais e a fé que professamos e também a relação entre a celebração litúrgica e a vida “litúrgica” no cotidiano.

Acreditamos aquilo que celebramos; celebramos expressando ritualmente aquilo que cremos.

Por isso o tempo pascal é chamado de tempo forte de conversão, de assumir compromissos, de rever valores. Num período de noventa dias (quaresma mais tempo pascal até pentecostes) fazemos uma revisão da nossa história.

E o ponto culminante desse nosso entendimento está centrado no Tríduo Pascal que a cada ano celebramos e que pretendemos aprofundar um pouquinho mais nesses nossos encontros.

 

REFLEXÃO SOBRE O ANO LITÚRGICO

 

            O ponto de partida para toda reunião cristã que busca aprofundar seus conhecimentos é a fé. Sem essa convicção da fé que nos ajuda a enfrentar os problemas do dia-a-dia, nossa vida tomaria outro rumo.

            E essa Fé que nos sustenta tem o seu fundamento em Jesus Cristo.

            Portanto, a compreensão da Fé Cristã nos vem de Jesus Cristo.

            E qual é o específico da Fé Cristã? O que torna a nossa Fé diferente? A FÉ TRINITÁRIA, que tem três momentos:

 

Primeiro Momento: CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO

O Creio é a grande profissão de Fé dos cristãos.

CRER EM DEUS significa crer que Deus é a fonte e origem de um projeto de Salvação.

Pra quem é o projeto de salvação existente em Deus? Para todo  batizado que aceitando a proposta de Deus, dá a sua resposta. E quando o  Elio dá a sua resposta; quando a Ana dá a sua resposta; quando a Edna,   o João, a Eliana... dão a sua resposta, eles se reúnem num ponto comum chamado Igreja.

            O projeto é pra toda humanidade mas só usufrui dele, quem, tomando conhecimento, o experimenta e aceita.

            Ex: Uma fruta desconhecida pode ser muito saborosa ao paladar, mas é preciso que alguém tome a iniciativa e a prove. Em seguida é preciso contar aos outros que o sabor é agradável; então, todos a degustarão.

            Assim é o projeto de Deus. Ele está disponível como uma ilustre fruta atraente, mas desconhecida de muitos fiéis. Precisa de cristãos que testemunhando o seu batismo, façam a experiência de Deus em suas vidas e divulguem esse projeto, para que toda a humanidade possa saboreá-lo.

            Logo, a Fé Cristã é muito mais do que sentimentalismo. É adesão, é engajamento, é compromisso com o projeto. Mas para assumir compromisso eu preciso compreender o projeto, conhecer a sua proposta. E ele é entendido através dos sinais que já estão no nosso meio e que muitas vezes não percebemos.

            A Liturgia vai realçar esses sinais do reino: o Amor, o Perdão, a Fraternidade, a Solidariedade, a Justiça, convidando-nos a experimentá-los na nossa vida. Mas à luz do projeto, Justiça é um sinal mais amplo que sua definição. A justiça do reino exige: partilha, solidariedade, fraternidade, união, mútua ajuda. Mas não como sinais isolados. Um puxa o outro. É sempre um grande desafio a nos provocar.

            A Fé cristã é um grande desafio, porque ela nos pede que sejamos sinais do reino, do projeto de Deus num mundo em que os sinais das trevas são muito fortes.

            Num dos últimos pronunciamentos do Papa João Paulo II ele enumerou os sinais das trevas nos dias de hoje: comércio de drogas, lavagem de dinheiro ilícito, corrupção generalizada, violência, armamentismo, discriminação racial, desigualdades sociais, destruição da natureza.

            Diante desse quadro, é possível viver o projeto de Deus nos dias de hoje? Se eu disser que não, então não devo dizer CREIO EM DEUS (Cf. CIC 150; 179 a 221).

 

Segundo Momento: CREIO EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO...

Jesus é a revelação e a plena realização do projeto do Pai. Através da sua Vida e Missão Jesus tornou possível a realização do projeto de Deus.

Uma vida de Obediência ao Projeto do Pai e Serviço aos irmãos até às últimas conseqüências que tem na cruz o seu exemplo de obediência e no Lava-Pés, o seu modelo de serviço  (Cf. CIC 151; 238 a 242).

            Para que esse projeto de Deus revelado em Jesus Cristo seja continuado e vivenciado pelos cristãos, o Espírito Santo impulsiona a Igreja.

 

Terceiro Momento: CREIO NO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é o certificado de garantia do projeto de salvação.

Deus nos concedeu dois grandes DONS para que o seu projeto se realizasse:

- O filho que nos revelou o projeto do Pai

- O Espírito Santo que garante a execução desse projeto, hoje.

            Tudo o que Deus queria nos oferecer está no seu projeto, só precisamos abraçá-lo.

Não é lutando contra as divisões que se consegue a unidade, mas tomando consciência da unidade é que se supera as divisões. O nosso modelo é Jesus Cristo.

A esse projeto tão difícil de ser vivenciado, a esse Amar quem nos Odeia, chamamos de MISTÉRIO DA SALVAÇÃO. Um Mistério que nos é revelado em Jesus Cristo e continuado pela Igreja (Cf. CIC 152; 243 a 246).

Portanto, a celebração deve estar em sintonia com os fatos marcantes da vida e da comunidade, que se expressam através do calendário litúrgico.

           

O ANO LITURGICO

 

            O Ano Litúrgico é o período em que a Igreja celebra todo o Mistério de Cristo, da Encarnação ao Pentecostes, enquanto esperamos sua vinda gloriosa. Toda a história da nossa Salvação é distribuída ao longo de um ano, desde a preparação do povo para a chegada do Messias até a coroação de Cristo, como Rei do Universo.

 

1. PONTO DE PARTIDA

Pensar o ano litúrgico é pensar a liturgia em relação ao tempo. O ponto de partida é a nossa maneira de lidar com o tempo e a experiência que fazemos no tempo.

Há várias maneiras de sentir o tempo de acordo com as diferentes culturas (indígenas, afros, rurais, urbanas, pós-modernas).

O mais imediato é o tempo percebido como horas, minutos, segundos. É o tempo controlado pelo relógio, que nos impõe a estreita disciplina da hora marcada à qual nos submetemos. Nesta perspectiva o tempo é limitado: “correndo contra o tempo”, “tempo é dinheiro” “não tenho tempo”. É o tempo que passa, que nos envelhece, é a compreensão do tempo como Kronos, (tempo que destrói...). Este tempo da hora marcada é o tempo muito ligado ao ritmo da economia, do lucro, o tempo de bater o cartão, dos prazos, dos vencimentos.

Há o tempo ligado ao ritmo cósmico: manhã, meio-dia, noite; semanas, meses, estações, anos; maré, enchentes, tempo das águas e da seca... tempo para plantar, semear... Previsão do tempo...

O tempo ligado ao ritmo biológico, corporal: ritmo das batidas do coração, ritmo da respiração, da pulsação; é o ritmo que vai mudando com o tempo: gestação, nascimento, infância, adolescência, juventude, idade adulta, terceira idade...

O tempo ligado aos acontecimentos históricos: buscamos o sentido dos fatos que acontecem no tempo. Haverá alguma força conduzindo a história.

Como você sente o tempo. Que tempo do ano você curte mais. Em que tempo da vida você está.

 

2. COMO AS RELIGIÕES LIDAM COM O TEMPO

a) Na cultura grega o tempo é percebido como Kronos, tempo que destrói... O mito, presente nos rituais, remete às origens e desta maneira permite aprender o segredo que está na origem das coisas e readquirir as forças que jorraram no tempo primordial dos princípios. O mito aponta o caminho, fazendo a pessoa sentir-se contemporânea do sagrado. O mundo transcendente dos deuses e heróis é ritualmente acessível e reatualizável: o rito abole o tempo profano, cronológico, e linear e situa a pessoa no tempo mítico, no tempo sagrado (eterno) que é circular, voltando sempre sobre si mesmo.

Este retorno permanente faz a pessoa crer que é capaz de abolir o passado, de recomeçar sua vida e recriar o mundo.

As religiões (com seus calendários) criam espaços de liberdade que interrompem o trabalho e abrem para um viver o tempo em outra dimensão.

b) Na tradição judaico-cristã o tempo é compreendido como Kairós. É uma busca de sentido da vida, dentro do tempo, dentro da história presente. Compreende-se que há uma orientação secreta (mistério) que leva a história pelos caminhos de Deus. Kairós é o tempo da graça em que Deus opera a sua obra no coração do nosso tempo. Kairós coincide com os acontecimentos decisivos (eleição, aliança, êxodo, exílio e volta do exílio) em que Deus se manifesta a favor do seu povo. Cristo é a máxima expressão da irrupção de Deus na história, “na plenitude do tempo”.

O rito faz memória das ações de Deus na história. Reconhece como tempo sagrado o tempo em que Deus agiu a favor do seu povo; no cristianismo é “o tempo em que Jesus andou no mundo”. O ano litúrgico cristão com seus ritmos anual, semanal e diário, é memorial da vida, morte e ressurreição de Jesus.

O culto da Igreja nasceu da páscoa e para celebrar a páscoa. É neste núcleo fundamental da nossa fé que o ano litúrgico tem sua origem. Foi organizado para manter viva a memória do ressuscitado na vida de cada pessoa e de cada comunidade.

            Cada celebração litúrgica é memorial de um único mistério, que assume cor e forma diferentes de acordo com a particularidade do tempo litúrgico e da vivência da comunidade que celebra.

            Quando vamos às origens das comunidades cristãs, vemos com que vitalidade e alegria celebravam a cada domingo, a páscoa semanal e com que intensidade esperavam a cada ano a páscoa do Senhor.

A liturgia, como fonte e cume da vida espiritual da Igreja é a grande herança que nos vem das primeiras comunidades cristãs. Por isso a Igreja na sua sabedoria foi assumindo o ano litúrgico, que tem como fundamento o “mistério” escondido a séculos e agora revelado na pessoa de Jesus Cristo, através dos tempos.

O ano litúrgico nos propõe um caminho espiritual, ou seja, a vivência da graça própria de cada aspecto do “Mistério” de Cristo, presente nas diversas festas e nos diversos tempos litúrgicos.

            Através do ano litúrgico fazemos uma experiência de Jesus e somos convidados a configurar a nossa vida à dele.

 

A FORMAÇÃO DO ANO LITÚRGICO

            Nas comunidades primitivas só havia o tempo comum. Na experiência dessas comunidades existia apenas a sucessão dos domingos e semanas ao longo do ano, tendo o domingo como dia maior que congregava os irmãos e irmãs em torno da Palavra e da Ceia.

            O domingo era o dia por excelência, para fazer memória da páscoa do Senhor – a páscoa semanal.

            No século II tem início a Celebração Anual da Páscoa com a vigília pascal, e que até o final do século III foi a única festa anual da Igreja. Ao redor deste núcleo foi-se formando o tríduo pascal (sexta, sábado e domingo). A páscoa foi prolongando-se numa festa de cinqüenta dias, chamada Pentecostes.

            A partir do IV século, por influência das comunidades de Jerusalém, começa a prevalecer o desejo de contemplar e reviver cada momento da paixão, morte e ressurreição. Nasce, assim, a semana Santa.

O que contribuiu para alargar o “antes” e o “depois” da celebração do tríduo foi o fato de que a celebração dos catecúmenos era realizada na noite da vigília pascal. O “antes” era marcado com a preparação para o batismo, uma quaresma, um retiro batismal. O “depois”, ou seja, a prolongação da páscoa (oitava e tempo pascal) era o tempo para que os neófitos (neo-batizados) fossem introduzidos mais profundamente no conhecimento do Mistério, através de uma catequese mistagógica, isto é, tempo para fazer a experiência do mistério.

            A cada celebração, o bispo aprofundava um aspecto do mistério vivido pelos neo-batizados: a unção, o mergulho, as renúncias, a profissão de fé...

           

Os ritmos para fazer a memória

            O ano litúrgico é proposto como um caminho pedagógico nos ritmos do tempo, seguindo o movimento das estações do ano, da alternância do dia e da noite, do trabalho e do descanso, do tempo da seca e tempo da chuva, tempo para plantar e tempo para colher...

            Como a vida, a liturgia acontece por meio de ritmos. Estes garantem a repetição, que é característica da ação memorial. Repetindo, a Igreja guarda a sua identidade.

            Para fazer memória, a liturgia se utiliza de três ritmos diferentes: o ritmo diário, alternando manhã e tarde, o ritmo semanal, que é a alternância de domingos e dias da semana, e o ritmo anual, com alternância entre tempos fortes e o tempo comum.

 

O ritmo diário

            O amanhecer e o anoitecer são dois momentos que marcam a comunidade cristã. A Igreja celebra a memória da páscoa de Jesus na oração da manhã (laudes) e na oração da tarde (vésperas). Estes dois ritmos estão presentes na feliz tradição de muitas pessoas e comunidades.

 

O ritmo semanal

            O ritmo semanal é marcado pelo domingo, porque neste dia o Senhor se manifestou ressuscitado (cf. Mc 16,2; Lc 24,1; Mt 28,1; Jô 20,1).

            O domingo é o dia da comunidade, dia da escuta da Palavra, dia da Eucaristia, dia do descanso, dia da alegria, dia de equilíbrio e harmonia (cf. SC 106)

 

O ritmo anual

            A Páscoa do Senhor é o centro do ano litúrgico, é o acontecimento fundante da nossa fé.

            Para manter viva a memória do Ressuscitado, no tempo presente e na vida de cada comunidade, o ano litúrgico foi sendo organizado em ciclos: um conjunto de domingos para celebrar o Salvador que se manifesta ao mundo; outro conjunto de domingos dedicado à paixão, morte e ressurreição de Cristo, que nos envia o Espírito Santo. E entremeando estes dois ciclos, numa longa série de domingos, revive-se o que Jesus fez e disse.

            Assim temos o ciclo do Natal, que compreende o tempo do Advento e tempo do Natal; o ciclo da Páscoa, que engloba o tempo da Quaresma e o tempo Pascal; e o tempo Comum.

 

A LITURGIA E O TEMPO

            Deus inseriu-se no tempo de modo particularmente claro e denso na pessoa de Cristo, de forma que qualquer tempo, qualquer época, é tempo de salvação, é tempo de Deus, porque sua oferta de salvação abarca todas as épocas e todos os homens, sendo, portanto, universal. A tarefa da Igreja consiste em anunciar a obra da salvação de Deus e Cristo e fazer com que ela se torne acessível a todos os homens de todas as épocas. E a Igreja realiza essa tarefa proclamando a Palavra de Deus e celebrando os sacramentos, bem como através de inúmeras pastorais e ministérios, abrindo assim, o caminho da fé, esperança e amor promovendo um crescimento na graça.

            Desta forma entende-se que, o tempo da liturgia é tempo do “hoje” da graça em que a Palavra é tempo de Deus e se torna vida. Refletir sobre este “hoje da graça”, e nele perceber o alcance da história da salvação, significa traçar as linhas de uma teologia bíblica autenticamente perene.

 

O ciclo da Páscoa

            No ciclo da páscoa, somos convidados a reviver a caminhada pascal do Senhor Jesus.

            A força do seu Espírito nos enche de alegria para cantarmos a vitória enquanto lutamos.

            Este ciclo engloba quaresma, festas pascais e tempo pascal até pentecostes, inclusive.

Tempo de quaresma

            A quaresma é um tempo de intensificar, pela oração, a esmola e o jejum, a nossa relação com Deus.

            O tempo da quaresma ressalta o conteúdo pascal da caminhada quaresmal. Resgata da quaresma aquilo que realmente ela é: tempo de “esperar na alegria a santa Páscoa”.

            Embora acentuemos na quaresma o aspecto da cruz e na páscoa o aspecto da ressurreição, há um centro de unidade que faz da quaresma a entrada na páscoa do Senhor. Quando refletimos sobre a saída da escravidão, quando refletimos sobre conversão, nós vivemos e celebramos isso como experiência pascal, como passagem da morte para a vida, do pecado para o amor.

            Páscoa e Pentecostes são, então, o ponto alto desta caminhada, expressam a alegria e a ação de graças por tudo o que o Senhor fez acontecer em nós.

1. O que é a Quaresma

“Senhor, como queres que preparemos a Páscoa?” (Cf. Mt 26, 17)

Nós cristãos celebramos todo ano a festa da Páscoa: a morte e a ressurreição de Jesus e também a nossa. É a maior de todas as festas. A mais importante... Grande demais para ser preparada em apenas três dias ou uma semana. Por isso, estendemos a sua preparação para quarenta dias. Daí Quaresma, período de quarenta dias, que vai da quarta-feira de cinzas até a quinta-feira santa pela manhã.

Os textos litúrgicos que rezamos durante o tempo da Quaresma são belíssimos e nos conduzem ao verdadeiro espírito deste “tempo favorável”. 

Vejamos apenas o Prefácio da Quaresma V (Missal Romano, pág. 418) como síntese de toda esta riqueza:

“Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação louvar-vos, Pai santo, rico em misericórdia, e bendizer vosso nome, enquanto caminhamos para a Páscoa, seguindo as pegadas de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, mestre e modelo da humanidade, reconciliada e pacificada no amor.

Vós reabris para a Igreja, durante a  Quaresma, a estrada do Êxodo, para que ela, aos pés da montanha sagrada, humildemente tome consciência de sua vocação de povo da aliança. E, celebrando vossos louvores, escute vossa Palavra e experimente os vossos prodígios.

Por isso, olhando com alegria esses sinais de salvação, unidos aos anjos e aos santos, entoamos o vosso louvor, cantando a uma só voz:”

Podemos encontrar neste Prefácio todos os elementos que caracterizam não só a liturgia deste Tempo, mas especialmente a sua teologia, a sua espiritualidade e a sua pastoral.  Voltamo-nos para Deus, “Pai Santo, rico em misericórdia”; relembramos a grande experiência do Êxodo, da Aliança, da libertação e da nova terra; assumimos nossa atitude de povo peregrino, ouvintes da Palavra, povo amado e escolhido por Deus; nosso modelo é Cristo, cuja morte e ressurreição celebramos de forma mais intensa neste tempo.  Enfim, a Quaresma é um “sinal de salvação” ou, numa expressão usada num artigo de Dom Manoel João Francisco, “sacramento anual de reconciliação”.

 

2.    Símbolos, ritos, gestos quaresmais

São vários os símbolos, as atitudes e iniciativas humanas e religiosas que acompanham e enriquecem o tempo da Quaresma, no qual, como em toda preparação, já saboreamos de certa maneira a festa da Páscoa que virá. Por exemplo:

A cor roxa, as cinzas e a cruz lembram o caráter de penitência e conversão próprio deste tempo. Isto se manifesta também no visual do espaço celebrativo, sóbrio, despojado.

O jejum nos orienta a dar mais atenção à Palavra de Deus. A fome que sentimos (quando fazemos jejum) pode simbolizar e evocar a fome que temos da Palavra de Deus. É tempo forte, portanto, de escuta da Palavra, pois através dela vamos conhecer os desejos de Deus e praticar a sua vontade.

Ajudados pela Campanha da Fraternidade, intensificamos a prática da caridade, procurando corrigir e aperfeiçoar, à luz da Palavra de Deus, nosso jeito como tratamos as pessoas e com elas nos relacionamos, sobretudo os mais pobres e sofredores, e como procuramos ajudá-los a viver com dignidade. 

Nesse tempo forte da vida da Igreja intensificamos nossa vida de oração, na forma de súplicas, pedidos de perdão, intercessão, agradecimento, compromissos de fé, melhor participação na comunidade etc. É um tempo próprio para, nas comunidades, a gente participar de alguma celebração penitencial (individual ou comunitária). Sobre estas três atitudes – jejum, esmola e oração – os Santos Padres fazem muitas referências.

Recordemos algumas:

 “O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente” (São Pedro Crisólogo).

 

“Não tem mérito nenhum negar alimento ao corpo se no coração não se renuncia à injustiça e se a língua não se abstém da calúnia” (São Leão Magno).

 

“A esmola só será autêntica se à ajuda material estiver unido o perdão das ofensas” (Santo Agostinho).

 

Podemos expressar nossa vontade de participar da caminhada sofrida de Jesus (vítima da violência, de ontem e de hoje), participando de procissões (de ramos, do encontro, do Senhor morto etc.), Via-Sacra, círculos bíblicos etc.

Expressamos o “clima” próprio deste tempo forte da vida da Igreja também através da música e do canto. Há uma música própria e cantos que caracterizam este tempo, além do hino da CF. O Hinário 2 da CNBB apresenta também um bom repertório de músicas litúrgicas quaresmais.

Na introdução do Hinário 2 lemos:  “Cantar a Quaresma é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo, que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a  Paixão de Cristo. O canto da quaresma nos inspira e anima a assumir, com mais garra do que nunca, a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. (...) Pela participação em seus sofrimentos, isto é, ‘obedientes ao Pai e comprometidos com os irmãos até o fim’ (cf. Jo 13,1), ‘cheguemos à glória da sua ressurreição’ (cf. Fl 3, 10-11)”.  Para ajudar nesta vivência, é aconselhável também que se evite na Quaresma o toque de instrumentos musicais. Também não cantamos o “glória” e o “aleluia”.

 

3.    Lembretes práticos para as equipes de liturgia e de celebração

O espaço litúrgico, despojado, sóbrio e “vazio” nos ajuda a esvaziar o coração para preenchê-lo com a Palavra, que é luz para nossos passos e que nos converte.

Momentos de silêncio, principalmente entre as leituras e após a homilia, são importantes.

Um sinal permanente no espaço litúrgico, como um tecido roxo em forma de faixa na mesa da Palavra ou como detalhe na mesa eucarística (sem “tampar” ou esconder o altar), ajudará na experiência quaresmal. Não colocar o cartaz da CF em frente ao altar ou ambão, mas num outro local, de preferência na entrada da igreja, bem visível para a comunidade.

A cruz, pela qual fomos marcados no Batismo, deve ser destacada. Ela lembra que somos discípulos e discípulas de Jesus, que superou o fracasso humano da cruz com um amor que vence a morte.

A comunidade pode fazer maior experiência da misericórdia de Deus através do sacramento da Reconciliação, de celebrações penitenciais e também de retiros.

 

4.    Semana Santa e Tríduo Pascal: a conclusão da quaresma

Existe um jeito, um lugar, um momento muito especial no qual aprenderemos a “viver a semana santa”. É o que nos aponta o saudoso Papa Paulo VI: “Se há uma liturgia que deveria encontrar-nos todos juntos, atentos, solícitos e unidos para uma participação plena, digna, piedosa e amorosa, esta é a liturgia da grande semana. Por um motivo claro e profundo: o Mistério Pascal, que encontra na Semana Santa a sua mais alta e comovida celebração, não é simplesmente um momento do Ano Litúrgico: ele é a fonte de todas as outras celebrações do próprio Ano Litúrgico, porque todas se referem ao mistério da nossa redenção, isto é, ao Mistério Pascal”.

 “Viver a semana santa” significa fazermos memória destas ações maravilhosas de Deus. Mais, saber que estamos “re-vivendo” todos estes fatos. “De geração em geração, cada um de nós é obrigado a ver-se a si próprio, com os olhos penetrantes da fé, como tendo ele mesmo estado lá no Calvário, na primeira sexta-feira santa, e diante do sepulcro vazio, na manhã da ressurreição. Será exatamente nossa comunhão com o corpo sacramental do verdadeiro Cordeiro que nos tornará realmente presentes àquele eterno presente.”

(Pe. Carlos Gustavo Haas)

 

Quando cobrir as Cruzes e as Imagens?

As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-Feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal.

(Missal Romano: sábado da 4ª semana da Quaresma, pag 211)

Se, por questões pastorais, não foram veladas no Sábado da 4ª semana da quaresma, a CRUZ e as IMAGENS devem ser cobertas ao término da celebração da Ceia do Senhor na Quinta-Feira Santa.

 

O Tríduo Pascal

O Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor começa com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, possui o seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da ressurreição.

É o ápice do ano litúrgico porque celebra a Morte e a ressurreição do Senhor, “quando Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a via”. (Guia Litúrgico Pastoral, pag 11. Diretório Litúrgico pag 79)

O órgão ou outros instrumentos musicais toca-se na quinta-feira na celebração da Ceia do Senhor até o fim do canto do Glória. Depois não se toca mais, até o Glória da Missa da Vigília noturna da Ressurreição, (Sábado Santo), a menos que seja para sustentar o canto. (Diretório Litúrgico, pag 79)

 

A Eucaristia e a Cruz

A Eucaristia nos leva a compreender o sentido da cruz.

Se para os judeus foi vista como escândalo, para os cristãos é  sinal de Vitória.

No monte Calvário havia 3 cruzes.

Os três que nelas estavam receberam a mesma sentença de Pôncio Pilatos: foram condenados à morte de cruz.

Para os dois ladrões, a cruz é o instrumento do seu assassinato.

Para Jesus, é instrumento da sua doação total até as últimas consequências.

- O que Jesus fez na Ceia Pascal era comum entre os judeus: repartir o pão indicava que naquela mesa não havia estrangeiros, eram todos, família; o cálice era sinal de solidariedade.

- O NOVO de Jesus está na atitude do seu gesto: “TOMAI E COMEI, ISTO É O MEU CORPO...” “TOMAI E BEBEI, ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE...”

MEU CORPO = toda a Vida e não apenas o conjunto de células.

MEU SANGUE = tem um significado que ultrapassa a descrição do líquido que corre em nossas veias. Indica entrega até o fim

CEIA  = gesto profético

Portanto:         CRUZ             = gesto realista

                       MISSA            = gesto memorial

- Nos três gestos o DOM DE JESUS CRISTO, ou seja, sua vida e missão, estão presentes por inteiro.

- Esse Memorial da Fé celebrado no Mistério Pascal de Jesus Cristo é ÚNICO, mas apresentado em dois momentos: pela PALAVRA PROCLAMADA e pela EUCARISTIA.

 

 

Fontes: CNBB – Guia Litúrgico Pastoral (2ª Ed)

- BERGAMINI, A. – Cristo, Festa da Igreja: O Ano Litúrgico (2ª Ed. Paulinas)

- CNBB – Diretório Litúrgico 2013

- BUYST I., O Segredo dos Ritos. (Paulinas)

- ALMEIDA, S.F., A Missa e a Celebração da Palavra na ausência do presbítero.

- Wikipédia, a enciclopédia livre.