Introdução Geral à Liturgia

15/03/2012 22:33

 

INTRODUÇÃO GERAL À LITURGIA

 

            O ponto de partida para toda reunião cristã que busca aprofundar seus conhecimentos é a fé. Sem essa convicção da fé que nos ajuda a enfrentar os problemas do dia-a-dia, nossa vida tomaria outro rumo.

            E essa Fé que nos sustenta tem o seu fundamento em Jesus Cristo.

            Portanto, a compreensão da Fé Cristã nos vem de Jesus Cristo.

            E qual é o específico da Fé Cristã? O que torna a nossa Fé diferente? A FÉ TRINITÁRIA, que tem três momentos:

 

Primeiro momento: CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO       

O Creio é a grande profissão de Fé dos cristãos.

CRER EM DEUS significa crer que Deus é a fonte e origem de um projeto de Salvação.

Pra quem é o projeto de salvação existente em Deus? Para todo batizado que aceitando a proposta de Deus, dá a sua resposta. E quando a Ângela dá a sua resposta; quando a Renata, o Eduardo, a Patrícia, o Marcelo, a Luciane, o Washington... dão a sua resposta, eles se reúnem num ponto comum chamado Igreja.

            O projeto é pra toda humanidade, mas só usufrui dele, quem, tomando conhecimento, o experimenta e aceita.

            O projeto de Deus é como uma fruta desconhecida. Pode ser muito saborosa ao paladar, mas é preciso que alguém tome a iniciativa e a prove. Em seguida é preciso contar aos outros que o sabor é agradável; então, todos a degustarão.

            Assim é o projeto de Deus. Ele está disponível como uma ilustre fruta atraente, mas desconhecida de muitos fiéis. Precisa de cristãos que testemunhando o seu batismo, façam a experiência de Deus em suas vidas e divulguem esse projeto, para que toda a humanidade possa saboreá-lo.

            Logo, a Fé Cristã é muito mais do que sentimentalismo. É adesão, é engajamento, é compromisso com o projeto.

            Mas para assumir compromisso eu preciso compreender o projeto, conhecer a sua proposta. E ele é entendido através dos sinais que já estão no nosso meio e que muitas vezes não percebemos.

            A Liturgia vai realçar esses sinais do reino: o Amor, o Perdão, a Fraternidade, a Solidariedade, a Justiça, convidando-nos a experimentá-los na nossa vida.

Mas à luz do projeto, Justiça é um sinal mais amplo que sua definição.

            A justiça do reino exige: partilha, solidariedade, fraternidade, união, mútua ajuda.

            Mas não como sinais isolados. Um puxa o outro. É sempre um grande desafio a nos provocar.

            A Fé cristã é um grande desafio, porque ela nos pede que sejamos sinais do reino, do projeto de Deus num mundo em que os sinais das trevas são muito fortes.

Num dos últimos pronunciamentos do Papa João Paulo II ele enumerou os sinais das trevas nos dias de hoje: comércio de drogas, lavagem de dinheiro ilícito, corrupção generalizada, violência, armamentismo, discriminação racial, desigualdades sociais, destruição da natureza.

            Diante desse quadro, é possível viver o projeto de Deus nos dias de hoje? Se eu disser que não, então não devo dizer CREIO EM DEUS (Cf. CIC 150; 179 a 221).

 

Segundo momento: CREIO EM JESUS CRISTO

Jesus é a revelação e a plena realização do projeto do Pai. Através da sua Vida e Missão Jesus tornou possível a realização do projeto de Deus.

Uma vida de Obediência ao Projeto do Pai e Serviço aos irmãos até às últimas conseqüências que tem na cruz o seu exemplo de obediência e no Lava-Pés, o seu modelo de serviço  (Cf. CIC 151; 238 a 242).

            Para que esse projeto de Deus revelado em Jesus Cristo seja continuado e vivenciado pelos cristãos, o Espírito Santo impulsiona a Igreja.

 

Terceiro Momento: CREIO NO ESPÍRITO SANTO, NA SANTA IGREJA

O Espírito Santo é o certificado de garantia do projeto de salvação.

Deus nos concedeu dois grandes DONS para que o seu projeto se realizasse:

- O filho que nos revelou o projeto do Pai

- O Espírito Santo que garante a execução desse projeto, hoje.

Tudo o que Deus queria nos oferecer está no seu projeto, só precisamos abraçá-lo.

 

Não é lutando contra as divisões que se consegue a unidade, mas tomando consciência da unidade é que se supera as divisões.

 

O nosso modelo é Jesus Cristo.

            A esse projeto tão difícil de ser vivenciado, a esse Amar quem nos Odeia, chamamos de MISTÉRIO DA SALVAÇÃO. Um Mistério que nos é revelado em Jesus Cristo e continuado pela Igreja (Cf. CIC 152; 243 a 246).

Portanto, a celebração deve estar em sintonia com os fatos marcantes da vida e da comunidade, que se expressam através do calendário litúrgico.

            O Ano Litúrgico é o período em que a Igreja celebra todo o Mistério de Cristo, da Encarnação ao Pentecostes, enquanto esperamos sua vinda gloriosa. Toda a história da nossa Salvação é distribuída ao longo de um ano, desde a preparação do povo para a chegada do Messias até a coroação de Cristo, como Rei do Universo.

            Dois grandes ciclos compõem o Calendário Litúrgico:

- O Ciclo do Natal que se inicia com o tempo do Advento e se prolonga até o Batismo do Senhor.

            - O Ciclo da Páscoa que se inicia na Quaresma e se prolonga até Pentecostes.

            E o tempo Comum?

            Nos domingos do tempo comum, damos graças pela páscoa do Senhor no cotidiano de sua vida: suas palavras, ensinamentos, trabalhos, amizades, sonhos, conflitos, desafios... É composto por 33 ou 34 semanas (dependendo do ano). Os domingos da primeira parte do tempo comum estão mais ligados à Epifania e nos convidam a adorar o Senhor que se manifesta anunciando a sua missão e chamando os primeiros discípulos. Começa depois da festa do batismo do Senhor e vai até a terça-feira antes da quaresma. Nos domingos depois de Pentecostes, fazemos memória dos fatos que marcaram a missão de Jesus. Já os últimos domingos acentuam a dimensão escatológica e nos renovam na esperança da vinda do Senhor. Termina com as vésperas do 1º domingo do Advento.

            É um tempo muito importante para o sustento da nossa caminhada, porque ele nos mostra a presença de Deus nas pequenas coisas. Durante este tempo celebramos a vida pública de Jesus, a presença de Maria, o testemunho dos santos.

          É na LITURGIA que celebramos o Mistério Pascal de Jesus Cristo, pelo qual entendemos o Mistério da nossa Fé Trinitária, que nos leva a compreender o projeto de Salvação de Deus, para vivenciá-lo na Igreja hoje.

         Estudar liturgia é aproximar-se do Mistério, em diálogo com a tradição, valorizando a presença de cada grupo que se reúne em Nome do Senhor.

Só que para vivenciar este mistério, para celebrar a liturgia, eu preciso conhecer as regras do jogo. Por que senão, eu vou apenas imitar o que os outros fazem. Se sentarem eu sento, se levantarem eu levanto, se ajoelharem eu me ajoelho.

Isto não resolve, eu preciso saber porque fazem estes gestos. Eu preciso celebrar e não apenas assistir.

 

AS REGRAS DO JOGO

            Pesquisando meus livros de liturgia para elaborar este encontro deparei-me com uma situação vivida por um liturgista bem semelhante a que enfrentei na década de 1990, quando era diretor de esportes de um clube militar. Prefiro contar a minha “triste” experiência.

            Por ocasião do aniversário do clube encarregaram-me de organizar um campeonato entre os associados que abrangesse diversas modalidades, entre elas TRUCO.

            O problema é que eu nunca entendi as regras desse jogo. Sequer consigo ficar perto da dinâmica que move esses jogadores que parecem tão empolgados com alguma coisa que não consigo ver.

            O campeonato em si foi muito bom, mas essa modalidade, segundo os entendidos, foi um fracasso.

Como diretor de esportes fui obrigado a permanecer naquele salão, onde 20 duplas disputavam o tão barulhento torneio de truco. Eu não conseguia entender o motivo de tanta empolgação e gritos: seis... nove...truco. De repente alguém era chamado de “ladrão” e sorria satisfeito como se tivesse recebido um elogio. Não entendi nada. Alguns chegavam a subir nas mesas para gritar e sapatear. Mas estavam tão próximos uns dos outros. Minha preocupação era com as cadeiras e mesas que poderiam se quebrar.

            Para quem não conhece as regras do jogo, é um sacrifício ver os outros jogarem. Declarar alguém campeão, sem saber o porque foi ainda mais doloroso.

            Quando passamos a conhecer melhor a vida das comunidades, percebemos que em nossas liturgias acontece a mesma coisa.

            A liturgia também tem suas regras. É um diálogo entre Deus e a comunidade reunida em assembléia. Nesse diálogo existem momentos para tudo: momento para saudar, para conversar, perdoar e pedir perdão, elogiar, agradecer, fazer pedidos e preces, falar e calar, perguntar ou responder, aclamar etc.

            Tudo isso é um jogo maravilhoso e tem suas regras.

            Quando a liturgia for redescoberta por todos os cristãos, nossas celebrações serão verdadeiras comemorações da vida na Fé.

            Infelizmente, a maioria dos cristãos encontra-se com relação à liturgia como eu diante de uma mesa de truco. Não conhecem a lógica do que está acontecendo na celebração: cantam, rezam, fazem tudo o que “está prescrito”.       Lêem tudo o que está no folheto. Mas não entendem as regras do jogo. Por isso, acabam achando tudo uma tremenda chatice. Assistem a tudo, por obrigação.

            Já pensou assistir a uma partida de truco por obrigação? É duro...

            Assim se encontram muitos cristãos na liturgia. Não é que o jogo seja sem graça, ele tem a sua lógica, mas é preciso conhecê-la. Assim também, para que a nossa celebração desperte nos fiéis aquela vontade de gritar, de subir na mesa para anunciar o evangelho, precisa ser compreendida.

 

            Liturgia é um fantástico jogo da vida onde não existem perdedores, pois a liturgia é a celebração da vitória definitiva. Jesus venceu a morte. Nele somos mais que vencedores.

            A história da liturgia fornece ganchos para a vida, porque a Liturgia é a história do povo, é o desenvolvimento da Igreja.

            Infelizmente, por falta de conhecimento da liturgia, nossas celebrações, muitas vezes, deixam de ser essa explosão de alegria do povo que se encontra com o seu Senhor.

 

            SC 10 – Liturgia é Fonte e Cume da vida da Igreja. É da Liturgia que brota a força da Igreja.

 

            Numa celebração litúrgica, o homem/mulher, pela ação do Espírito Santo, glorifica a Deus. O louvor do povo sobe a Deus e o agrada tanto que Deus vem ao homem/mulher e o santifica.

            É por isso que dizemos que em cada celebração litúrgica se realiza plenamente o Mistério, se atualiza o mistério de Cristo.

            No momento da celebração, acontece a Salvação. O tão sonhado projeto de Salvação de Deus é entregue nas nossas mãos.

            Somente quando este projeto de Deus, revelado em Jesus Cristo é celebrado, anunciado e vivido pela igreja, o ser humano compreende a sua verdadeira razão de existir.

            - se eu estou angustiado – Ele é o meu consolo

            - se estou doente – Ele é o meu remédio

            - se estou em pecado – Ele me oferece o perdão (Penitência)

            - se estou desanimado – Ele me fortalece com o seu Corpo e com o seu Sangue- se estou desesperado – Ele me conforta

 

            LITURGIA é o último momento da história da Salvação.

 

DEUS tem um Plano de Salvação para o Homem e toma a iniciativa.

Comunica ao Homem seu Plano na Celebração

O Homem acolhe esse Plano e numa Ação de Graças

Louva o Senhor na Celebração

Vivendo o Mistério de Deus em sua vida

 

            A cada domingo uma lição em três momentos me revela uma parte desse projeto e me propõe vivenciá-lo durante a semana.

            Em Jesus Cristo podemos vislumbrar o amor misericordioso do Pai, ao mesmo tempo em que percebemos o destino último do ser humano e de toda a humanidade. A essa revelação, chamamos de Mistério Pascal cujo coração, no AT, é a Aliança do Sinai:

Ex: 3,7-8Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi seus clamores por causa de seus opressores; sim, eu conheço seus sofrimentos e desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, terra em que manam leite e mel”.

            Na Aliança do Sinai encontramos duas palavras-chave na dinâmica da revelação do mistério de Deus:

 

            Libertação “por isso desci para libertá-los”

            Esperança:e fazê-los subir para uma terra boa e vasta, terra em que manam leite e mel.”

 

            É o povo que, liderado por Moisés, faz o que devia ser feito para sair da escravidão, mas pela mão poderosa e o braço estendido de Deus.  A iniciativa de salvação é de Deus. Foi Deus quem inspirou a idéia, que deu forças, que tomou partido pelo oprimido contra o opressor.

            A páscoa judaica faz memória dessa aliança. Na liturgia judaica, celebrada em casa, um dos momentos centrais é este em que o membro mais jovem da família pergunta:

 

             “Porque esta noite é diferente de todas as outras noites?” A que o chefe da família responde: “Nós estávamos escravos do Faraó no Egito e Deus nos fez sair de lá com sua mão forte e seu braço estendido.”

 

            Portanto, a liturgia judaica:

 

É memória de um acontecimento fundador.

            Para a pergunta do membro mais jovem da família, o pai não dá uma resposta evasiva. A resposta é absolutamente segura. Eles não eram um povo; eles se tornaram um povo a partir deste acontecimento. Agora, eles são o Povo de Deus.

 

É memória de um acontecimento sempre presente na história e na caminhada deste povo.

            A narrativa é atual. Se hoje eles são livres é graças a esta intervenção de Deus nos seus antepassados. Se Deus não tivesse agido, ainda seriam escravos no Egito. Perder esta memória, seria perder a identidade de Povo da Aliança, de Povo de Deus.

 

É uma memória comprometedora

            Toda liturgia Pascal lembra com detalhes a luta pela liberdade: as pragas do Egito, os soldados engolidos pelo Mar Vermelho, a travessia do deserto, a fome e a sede. Tudo isso faz parte do memorial da ceia. Celebrar o memorial é assumir uma tarefa a realizar.

 
É uma memória que projeta para uma esperança

            Celebrando um acontecimento do passado, eles esperam a instauração dos tempos messiânicos, quando desaparecerão para sempre o luto e as lágrimas.

(cf Is 25,6-9)

 

            Já no Novo Testamento, esse anseio de salvação existente em Deus é plenamente revelado em Jesus Cristo. (cf Ef 1,9-10; 3,3; Cl 1,26-27; Rm 16,25-26).

            A Páscoa cristã buscará, pela liturgia, perpetuar na história do novo Povo de Deus, através da memória desta nova e eterna aliança realizada em Jesus: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).

            Aqui está a diferença entre a Antiga e a Nova Aliança: A memória não é mais de um percurso – saída do Egito – mas de uma pessoa – Jesus Cristo, sua vida e missão.

            Enquanto a páscoa antiga celebra a passagem de um povo da escravidão à liberdade, a páscoa cristã celebra a passagem da humanidade para Deus, inserida na passagem feita por Jesus.

            A promessa de Deus se realiza na vida e missão, morte e ressurreição de Jesus. Aqueles que nos relatam tal fidelidade foram testemunhas e companheiros de Jesus.

            Para nos transmitir o que pela fé interpretaram, eles dispõem de uma narrativa: “Tomai e comei todos, isto é meu corpo que será entregue por vós... Tomai e bebei, este é o meu sangue que será derramado por vós”. E de um gesto: pão e vinho, que se tornam para nós, agora, o acontecimento central da salvação.

 

            A história da salvação tem, portanto, três momentos:

 

            1º Momento: de Adão até Abraão – Tempo de Formação de um Povo.

            2º Momento: de Abraão até Jesus Cristo – Tempo de Preparação (Antigo Testamento)

            3º Momento: de Jesus Cristo até hoje – Tempo do Espírito; Tempo da Igreja; Tempo da Liturgia.

 

            A liturgia é a maneira de reviver Jesus Cristo na Assembléia através da ação do Espírito Santo na Igreja.

 

1. Quem celebra a liturgia?

            Seria muito útil superarmos alguns termos usados por séculos e ainda hoje correntes. Tais termos são: “ouvir missa”, “assistir missa”, “ir à missa celebrada pelo padre tal” etc. Ora, é todo o povo quem propriamente “celebra” a missa, todos são celebrantes, enquanto ela é presidida pelo sacerdote ordenado, o qual é indispensável à sua realização.

 

2. O que se celebra na liturgia?

(O Mistério Pascal de Jesus Cristo)

            Podemos definir a liturgia como “a celebração por meio de símbolos e de ritos do Mistério Pascal de Jesus Cristo”. Mas, para bem compreendermos o que esta definição significa, importa ir analisando cada uma de suas partes.

           

            Em primeiro lugar a liturgia é “celebração”.

            Celebrar é o mesmo que festejar, comemorar, valorizar, apoiar, tornar célebre. Mas celebrar é também cativar.

            A liturgia, portanto, é a arte de cativar a Deus, na esperançosa certeza de ser também aceito por ele. Quem celebra ama e sente-se também amado, cativa e é ao mesmo tempo cativado.

            A liturgia é uma ação e não um discurso.

            Com efeito, aos discípulos reunidos para a Última Ceia, a ordem de Cristo foi: “fazei isto em memória de mim” e não: “fazei um discurso em memória de mim”.

            Mas a liturgia é, sobretudo, celebração do Mistério Pascal de Jesus Cristo.

            Ora, na Igreja fala-se muito em mistério.     Na língua grega, de onde a palavra se origina, mistério significa alguma coisa que está fechada, cerrada, portanto, oculta e secreta, mas que pode ser aberta.

Mistério para a liturgia é Deus agindo a favor do mundo e das pessoas e nos convidando à comunhão com ele.

            Naturalmente que nunca poderemos conhecer completamente a Deus, o que nos indica que seu mistério é inesgotável. De fato, esta é uma característica fundamental do mistério: quanto mais se revela, tanto mais tem a revelar.

            Mas para revelar é preciso que cada um de nós que celebramos a liturgia tenhamos consciência da nossa função.

            O padre é uma peça fundamental na liturgia da missa. Cristo age na sua pessoa. Mas a missa não é responsabilidade só do padre, mas de todos os celebrantes, de todos nós. Cada um na sua função. O padre preside a celebração, age in persona Christi. O coral anima o povo cantando. O comentarista nos introduz no tema celebrado. Os leitores proclamam a palavra transmitindo a lição do dia. E o povo, acolhe no seu coração a palavra, canta, louva, agradece, pede, alimenta-se com a eucaristia e se compromete.

            Celebração sem compromisso, não tem sentido.

 

            Permitam-me contar mais uma historinha:

O PADRE E O ATOR

            Havia dois irmãos. Um resolveu ser padre, e foi para o seminário. O outro preferiu seguir carreira como ator. Muitos anos se passaram sem que se vissem. O tempo passava, e cada um deles dedicava-se mais e mais ao ofício que escolhera.

            Finalmente, os dois se encontraram na casa dos pais. O mais velho usava batina. Fora ordenado sacerdote, falava de cor frases inteiras da Bíblia. O mais novo, ator formado, representava obras de autores famosos. Havia sido muito elogiado e aplaudido.

            Nessa ocasião, os dois irmãos combinaram que um visitaria o outro quando estivesse exercendo a sua “profissão”. Algum tempo depois, sentado no meio da platéia, diante do palco onde dentro de instantes seu irmão ator entraria em cena, o padre esperava.

            Quando as cortinas se abriram, o padre ficou de “boca aberta”. Cenário bem montado, palmas vibrantes, atenção e silêncio, o som harmonioso da orquestra, tudo perfeito. O apresentador começou a falar (sem papel na mão). Explicou o sentido da peça nos dias de hoje. Falou sobre o autor, os atores e os detalhes do cenário. A apresentação foi um sucesso. Quando as cortinas se fecharam, todos, de pé, não paravam de aplaudir.

            Muitos foram ao camarim do irmão ator para parabenizá-lo. Comentavam trechos da peça... tiravam lições para suas vidas.

            Chegou o dia em que o ator visitaria o irmão padre. Encontrou-se, então, sentado na igreja, cercado por uma fria assembléia, num auditório não muito confortável. Olhava para o altar, onde um cenário sem muita criatividade parecia não ser trocado há muitos anos.

            De repente, alguém tomou um desafinado violão e pôs-se a exigir que todos o acompanhassem em uma melodia que não era possível escutar devido ao barulho de uma estridente bateria.

            Foi então que surgiu seu irmão. Lá na frente, o “apresentador” leu alguma coisa. Mas não se pode entender muito bem o que iria acontecer, nem a importância disso nos dias de hoje. Não havia palmas. Por outro lado em nenhum momento houve silêncio completo.

            No final da missa, o padre voltou para a sacristia. Só o irmão ator foi cumprimentá-lo. O padre perguntou-lhe:

            - Por que as coisas são assim? Lá no teatro as pessoas eram tão atenciosas. Aqui tudo parece ser diferente. Que acontece?

            E o irmão ator disse:

            - Você quer minha opinião sincera? Não ficará ofendido?

            - Claro... diga o que você pensa! – respondeu o padre.

            E o ator disse:

            - É que lá nós representamos mentiras como se fossem verdades, e aqui vocês representam verdades como se fossem mentiras!

            O mistério Pascal de Cristo é a verdade que dá sentido a nossa vida. E é como verdade que deve ser celebrado, experimentado e vivenciado.

            Na tradução bíblica para o latim: Mistério = Sacramento, porque mostra a Salvação mas não permite seu completo entendimento

            Através dos Sacramentos eu consigo visualizar os Mistérios da Vida de Cristo.

 

MISTÉRIO DE CRISTO       =                    SACRAMENTO

Morte e Ressurreição                        =                    Batismo

Pentecostes                           =                    Confirmação

Vida e Missão de Jesus         =                    Eucaristia

Aliança de amor: Cristo e a Igreja     =          Matrimônio

O perdão de Cristo                =                    Penitência

Cristo que serve/Pastor         =                    Ordem

Cristo que cura e perdoa       =                    Unção dos Enfermos

 

 

BIBLIOGRAFIA

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AUGE M. – Liturgia: história, celebração, teologia e espiritualidade, ed. Ave-Maria.

BERGAMINI A. – Cristo, Festa da Igreja, o Ano Litúrgico, ed. Paulinas.

CAMARGO G.C. Liturgia da missa explicada, cadernos temáticos para evangelização, 13.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. – ed. Paulinas.

CONSTITUIÇÃO SACROSANCTUM CONCILIUM, sobre a Sagrada Liturgia, ed. Paulus.

M. GUIMARÃES – P. CARPANEDO: Guia para celebrações das comunidades, ed. Santuário.

MELO J.R. – Introdução à Liturgia, apostila para o curso de Especialização em Liturgia da Universidade Católica de Salvador.

MELO J.R. - Proclamar a Palavra na comunidade cultual. Notas à margem de alguns documentos do Magistério universal do pós-concilio: Revista Convergência 312, 245-246.

Pe. JOÃOZINHO – Curso de Liturgia, ed. Loyola.